terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A costureira de Dachau

"Se você fosse um soldado, uma verdadeira prisioneira de guerra, eu saberia o que é o quê. Eu não estaria lidando com você para começo de conversa. Mas uma civil - disse ela, empilhando arquivos em sua mesa. E curvou a boca. - Mulheres. O que vamos fazer com você?"

"A guerra foi boa para você" - isto é o que as pessoas pareciam pensar quando Ada Vaughan retornou da Alemanha nazista. Ela tinha a sensação de que todos que a conheceram em Londres, sua cidade natal, a acusavam de não haver "sofrido" durante a Segunda Guerra Mundial. Tudo isso porque ela simplesmente "desapareceu", permanecendo escravizada em uma residência no campo de concentração em Dachau.
Pouco antes do início da guerra, Ada era uma jovem de 17 anos, que tinha o sonho de se tornar uma grande modista. Contudo, surgiu em seu caminho um nobre, conde, que dizia se chamar Stanislaus Von Lieben. Muito educado e elegante, o homem a envolveu e acabou por convence-la a ir até Paris - a capital da moda, um verdadeiro sonho para qualquer garota que aspirava se destacar no mundo da alta costura.
Todavia, assim que chegaram à cidade luz, a guerra estourou na Europa. Em meio ao medo e ao caos nas cidades, a jovem Ada terminou indo parar na residência de um oficial e sua família, onde ficou por anos fazendo trabalhos domésticos pesados, sem alimentação adequada, e nem mesmo uma cama para dormir. Só saía do quarto para esvaziar o balde onde fazia as necessidades. 

Sobrevivente
O campo de concentração em Dachau se estabeleceu em março de 1933, poucas semanas após os nazistas chegarem ao poder. Construído, inicialmente, para presos políticos, o local foi expandido aos poucos para abrigar detentos considerados contrários ou como uma ameaça ao regime de Hitler. Ainda que não fosse um campo de extermínio, os prisioneiros normalmente chegavam ali doentes e debilitados; muitos morriam no campo, superlotado e em condições precárias de higiene.
Ada trabalhou em Dachau atá abril de 1945. Quando ela retornou, a Inglaterra estava arrasada. No pós-guerra, o país estava extremamente pobre, contudo, se manteve conservador com os mesmos preconceitos de classe, gênero e raça.

"Ada voltou? Ela não foi trabalhar hoje. Foi quando ficamos sabendo. Tinha simplesmente ido para Paris com um sujeito elegante. O começo de toda a desgraça."

A Londres de Ada não existia mais. Mulheres da classe operária, principalmente, eram duplamente discriminadas: além de sua condição social, sofriam o preconceito de gênero.
No caso da personagem, só o fato de ela não ter permanecido no campo de concentração em si, mas sim, na residência do comandante, fez com que todos imaginassem que ela tivesse passado os anos de conflito "em paz".
A autora passa nitidamente a impressão de que Ada era culpada por ter "sobrevivido". 

"Mas você não morreu de fome, srta. Vaughan. (...) Quantos morreram em Dachau? Você ao menos sabe? Trinta e duas mil pessoas (...)."

Por fim, Ada percebeu que de nada adiantaria contar a sua história - ninguém queria ouvir. Sua guerra seria esquecida e as reportagens publicadas nos jornais não falavam da verdade que ela havia vivenciado.
Este é o pano de fundo da obra de Mary Chamberlain, publicada pela Editora Nova Fronteira. Apenas a história de uma sobrevivente de guerra, condenada em seu país simplesmente pelo pecado de ter retornado "viva" para casa.

334 páginas
Preço médio: entre R$ 20 e R$ 40