quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Apagando o Lampião

São cabras do couro duro
Onde bala bate e amassa,
Punhal enverga e não rompe,
Chuço quebra e não traspassa:
Com indivíduos assim,
Nem o diabo quer graça...

Leandro Gomes de Barros
Canção de Santa Cruz, 1912.

O livro Apagando o Lampião: Vida e Morte do Rei do Cangaço, do historiador Frederico Pernambucano de Mello, traz uma abordagem um pouco mais didática sobre o lendário rei do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

A obra foi desenvolvida com base em farta documentação escrita e depoimentos de pessoas que conheceram o bandoleiro dos sertões, seus descendentes, e até integrantes da força policial da época (conhecidas como volantes).

O autor, profundo conhecedor da história do cangaço, apresenta a trajetória do cangaceiro e seu bando sob o contexto histórico da época (entre os anos 1920 e 1940). Inclusive, Mello faz uma análise minuciosa sobre as circunstâncias do cerco à Gruta do Angico naquele 28 de julho de 1938.

Retrato real
Embora traga detalhes sobre os membros do bando de Lampião, incluindo o período em que ele conheceu Maria Deia (Bonita), o texto é um pouco exaustivo - talvez por seu caráter mais didático.

Quem espera encontrar neste livro façanhas "romantizadas" do rei do cangaço, irá se decepcionar. O ponto positivo é que o autor mostra o cangaceiro tal como era: alguém que acabou por se render ao sistema, nas negociatas junto aos coronéis, visando tão somente interesses próprios. Aquele ideal de justiça que muitos associam ao cangaceiro, se já existiu, foi enterrado sob as alpercatas do facínora.

Tanto é assim que, no espólio do bando foram encontrados objetos de valor, incluindo um automóvel e grande quantia em dinheiro. De acordo com o texto, o chefe do bando pretendia se mudar para o Sul do país e começar nova vida com todos os bens "conquistados" em suas andanças.

O retrato de Lampião feito por Mello mostra claramente a que veio o bandoleiro nordestino, e que o mesmo nada tinha de herói.

Apagando o Lampião: Vida e Morte do Rei do Cangaço
Frederico P. Mello
Editora Global, 2018
400 páginas



A garota do lago (Summit Lake)

E logo se estabelece uma conexão íntima quando um vivo caminha nas mesmas pegadas dos mortos

A trama é ambientada em uma pequena cidade entre montanhas – Summit Lake (título original) – onde acaba de ocorrer um assassinato brutal. Para investigar o caso, entra em cena Kelsey Castle, jornalista que havia retornado ao trabalho após algumas semanas afastada.

A vítima, Becca Eckersley, era uma estudante de direito, muito querida e admirada por todos. Bem sucedida, com futuro promissor, ela estava no início da pós-graduação e tinha muitos planos para sua carreira, até ser morta na casa da família.

O pai de Becca, um advogado rico e poderoso, com planos na política, procurou encobrir as pistas do crime e ocultar informações importantes para a investigação. Além disso, a forma como tudo ocorreu fez com que a população local acreditasse que o crime havia sido “aleatório”, por questão de dinheiro.

É nesse momento que Kelsey aparece na história; inclusive, a jornalista investigativa atua no enredo como protagonista, já que a narrativa se alterna entre o presente (quando ocorre a investigação do caso) e o passado (momentos de Becca alguns meses antes de sua morte). 



Kelsey não imaginava a complexidade do caso, e seu faro jornalístico intuía que por trás do homicídio havia muito mais a ser descoberto. Para levantar informações ela contou com a ajuda de Rae, gerente do simpático e aconchegante café Millie, e alguns moradores da pequena cidade. E quanto mais se aprofundava na vida de Becca, Kelsey percebeu que a garota tinha muitos segredos.

Promissor

Donlea desenvolveu um texto bem interessante e atrativo, capturando a atenção, sem monotonia nem diálogos
Promissor

Donlea desenvolveu um texto bem interessante e atrativo, capturando a atenção, sem monotonia nem diálogos repetitivos. Não dá vontade de fechar o livro até saber o que vai acontecer.

Como ressalva, vale destacar que o autor esqueceu de falar um pouco mais sobre Kelsey, já que, desde o começo é revelado que ela tem um trauma do passado, o que motivou seu afastamento do trabalho. 


Apesar do final surpreendente, a leitura termina com a sensação de que faltaram informações sobre as principais protagonistas. Mesmo assim, vale a pena conferir o livro de estreia de Donlea – e vamos aguardar os seguintes, o que se espera que venham logo!


Ficha técnica:
A garota do lago (Summit Lake)
Charlie Donlea
Faro Editorial, 2017
Número de páginas: 295