É possível tornar-se mais humano, deixando sua marca
em uma agenda real, sem um dezembro que a encerre
A obra de João Varella engana à
princípio, pois pode-se pensar que se trata de um romance picante, com detalhes
da vida íntima da personagem central (pelo menos, foi isso que me ocorreu assim
que peguei o livro).
Mas, não é bem assim; o ponto central
da história é a questão da autoria. Seguindo a estrutura do clássico As mil e
uma noites, no qual Sherazade vai revelando os fatos aos poucos, para que o rei
fique satisfeito e desista de executá-la, Varella procura construir a narrativa
em torno de pessoas que parecem igualmente lutar para sobreviverem.
O cenário é o cotidiano urbano de
Sandra Macedo, bem sucedida executiva de marketing, porém, com uma vida afetiva
repleta de frustrações. Por isso, ela acaba se envolvendo com pessoas que podem
comprometer a sua carreira e a saúde emocional.
A trama vai se desenrolando entre as
desventuras amorosas de Sandra e a luta diária de Carrano, o poeta maldito, que
tenta a todo custo ser reconhecido como escritor. O enredo fica interessante
mesmo é na página 89, quando Carrano, ao ser expulso de um táxi depois de uma
discussão por causa do valor, está caído no meio-fio em meio aos manuscritos
que ele tentava vender e uma espécie de livro de capa dura – tudo atirado sobre
ele pelo taxista enfurecido.
A partir deste momento, as histórias
de Sandra e Carrano se cruzam, e a executiva começa a perceber que existe vida fora
de sua agenda; e que é possível se tornar mais humano, deixando sua marca em
uma agenda real, sem prazo de validade e sem um dezembro que a encerre.
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Ficha técnica:
A agenda
João Varella
Número de páginas: 237
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