quarta-feira, 13 de julho de 2011

A liberdade começa aos 40



Os bancos universitários estão ocupados por gente madura. Muitos profissionais têm buscado mudar de carreira. Os motivos: o desejo de sair da rotina, a necessidade de explorar novas atividades ou simplesmente a chance de realizar um sonho.
A presença de quarentões nas salas de aula das faculdades é cada dia maior. O crescente envelhecimento da população ativa do Brasil é um dos principais sintomas. Outro fator relevante é a exigência de uma qualificação continuada aliada à experiência do trabalhador que está no mercado profissional. Há mais motivadores de mudanças. O ser humano é essencialmente um colecionador de experiências, e nele existe o temor de que a vida passe sem que tenha aproveitado ao máximo todas as possibilidades, inclusive em seu trabalho. Dessa forma, a insatisfação com o atual emprego, o dia-a-dia que se tornou extremamente maçante ou a simples vontade de aprender algo novo, tem levado muitos profissionais de meia-idade a buscarem uma segunda ou terceira graduação.
Há pouco tempo atrás, o trabalhador de faixa etária madura já começava a orientar seus passos pensando na aposentadoria. Alguns enxergavam essa possibilidade com pavor, afinal, ela representava decadência, improdutividade e indiferença social. Hoje não é assim. Estamos vivendo mais, e de forma saudável. Além disso, se considerarmos em termos estatísticos, uma pessoa com quarenta e poucos anos ainda tem pela frente um período de tempo igual ao que já trabalhou até então. Diante dessa perspectiva, a atitude de dar uma guinada na carreira ou investir em mais conhecimento na área em que atua é um fator positivo.

O terreno está fértil. Há mais empregos em diferentes áreas do conhecimento e os empregadores não se restringem à sua região geográfica. O conservadorismo está desaparecendo do mundo corporativo e as empresas valorizam a diversidade de formação e a experiência do candidato a uma vaga.
A internet, com as redes sociais e páginas das empresas, mostra um amplo panorama do mercado de trabalho e viabiliza a interação com profissionais de diferentes segmentos. Cursos e eventos também são boas fontes de informação. Mesmo que haja talento para a nova atividade, a demanda de mercado deve ser estudada, e as etapas para a alteração de rota definidas com cuidado.

Para que a transição de carreira seja eficaz é fundamental investir no autoconhecimento. Saber o que é bom para si, quais as verdadeiras razões para mudar, e o que gosta de fazer. É necessário estar seguro da decisão – mesmo porque, a essa altura da vida, não há tempo a perder com escolhas equivocadas. Um erro comum é confundir emprego com carreira e abandonar os dois de forma precipitada por causa de um atrito com o chefe ou de uma insatisfação momentânea.  Embora o cenário atual esteja favorável para que os quarentões experimentem novos rumos na profissão, é significativo o número de pessoas que só embarcam em um novo projeto de trabalho quando são demitidas. Arriscar uma mudança radical no momento da demissão pode ser comparado a uma decisão de campeonato nos minutos finais do segundo tempo. Consultores em recolocação profissional afirmam que o melhor momento de tomar uma decisão dessa importância é quando se está no auge, ganhando bem e empregado, pois quem está por baixo não tem opções e costuma mudar pelas razões erradas. Analisar com cuidado as habilidades e o estilo de vida, e se esses fatores estão em sintonia com a opção em mente, são detalhes a se observar. Uma nova (e eficiente) rede de contatos é importante. Muitas vezes, a nova área possui valores e cultura próprios, que levam um longo tempo para ser assimilados.
Pesquisas apontam que as pessoas com maior desejo de romper com a atual vida profissional têm entre 40 e 50 anos. Ainda que haja dificuldades para encontrar emprego nesta fase da vida, há nichos de mercado onde a turma com mais tempo de batente tem chances de se dar bem, como consultorias, serviços de advocacia ou dar aulas em universidade – atividades em que a experiência ainda tem peso. Quem se graduou nas décadas de 70 e 80 estava preparado para um mundo que não existe mais. No passado, o recém-formado buscava ingressar numa grande empresa e permanecer nela até se aposentar. Atualmente, essa prática só persiste no funcionalismo público.
Uma mudança de carreira bem estruturada agrega valor ao currículo. Porém, além de paixão e aptidão, é interessante ter em mente onde as competências adquiridas poderão ser aplicadas. É importante considerar os custos dessa iniciativa, como investimentos em cursos ou viagens relevantes à nova carreira. 
Aqueles que pretendem deixar a vida de assalariados e serem donos do próprio nariz devem ter cuidado redobrado, pois entrar em campo desconhecido sem uma pesquisa prévia e profunda sobre a área é atirar no próprio pé. Fazer uma boa poupança para se garantir durante a fase de transição é um aspecto que deve ser levado em consideração.

Mudar de profissão pode ser opcional ou um impositivo: nova dinâmica de mercado, tecnologias mais complexas, reestruturação na empresa. A maior dificuldade é buscar um referencial de sucesso que não condiz com os próprios valores. Muitos se comparam a colegas ou personalidades que julgam bem sucedidas e constroem uma ilusão de felicidade que nunca conseguirão alcançar, pois a felicidade não está em ser igual aos outros, e sim em satisfazer os próprios anseios e objetivos. A angústia só passa quando percebemos o que nos faz mal, entendemos por que nos sentimos infelizes no emprego e buscamos soluções. A liberdade está em fazer algo que possibilite realização, em todos os sentidos.

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