terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os sertões


A terra, o homem, a luta

Publicado em 1.902, “Os sertões” trata da Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da Cunha presenciou uma parte desta guerra como correspondente do jornal O Estado de São Paulo.

No entanto, antes de falar sobre o livro é necessário destacar o contexto sócio-cultural em que ele foi escrito. Com base na seleção natural de Charles Darwin sobre a evolução das espécies – a teoria da evolução – surgiram correntes nas ciências sociais que se apoiavam na tese da sobrevivência da espécie humana para instituir o controle demográfico. Mais conhecido como darwinismo social, o pensamento sustentava a idéia de que características biológicas e sociais determinavam que uma pessoa fosse superior a outra. Alguns dos padrões determinantes da superioridade de um indivíduo seriam um maior poder aquisitivo, a habilidade nas ciências exatas e a raça. O Darwinismo Social foi empregado para tentar explicar a pobreza pós-revolução industrial, sugerindo que os que estavam pobres eram os menos aptos (segundo interpretação da época da teoria de Darwin) e os mais ricos, que cresceram economicamente, seriam os mais aptos a sobreviver, por isso os mais evoluídos.

A tendência de se construir explicações biológicas para comportamentos considerados como socialmente indesejados, tais como o alcoolismo, a violência, a tristeza ou a depressão e a infância problemática (ao que hoje damos o diagnóstico de DDA – Distúrbio de Déficit de Atenção), caracterizou grande parte do discurso da Higiene e da Medicina Legal no final do século XIX e inicio do XX.

Euclides da Cunha era jornalista, militar e republicano, e sua formação ocorreu dentro dessa maneira de pensar.  Ele acreditava ser o Homem um produto do meio (determinismo – a miscigenação dos povos é contra as ‘leis naturais’).

Em “Os sertões” o autor aborda a questão da miscigenação no Brasil, fazendo uma distinção entre o sertanejo do litoral e do interior do país. Euclides baseia-se nas teorias raciais da época, compondo uma teoria na qual mostra como é prejudicial à intensa mestiçagem, pois pode trazer elementos de uma raça evoluída, degradando-os com os elementos de uma raça que se encontra em estágio inferior:
“A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial. Ante as conclusões do evolucionismo, ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma raça superior, despontam vivíssimos estigmas da inferior. A mestiçagem extremada é um retrocesso. O indio europeu, o negro e o brasílio-guarani ou o tapuia, exprimem estágios evolutivos que se fronteiam, e o cruzamento, sobre obliterar as qualidades preeminentes do primeiro, é um estimulante a revivescência dos atributos primitivos dos últimos. De sorte que o mestiço — traço de união entre as raças, breve existência individual em que se comprimem esforços seculares — é, quase sempre, um desequilibrado.” (CUNHA, 96, 1985).

O livro acaba, mas não termina. Esta obra foi uma das mais importantes reflexões sobre a identidade nacional. O escritor positivista que acreditava na república é o mesmo que denuncia a dor, a fome e a barbárie. Canudos foi um crime cometido para e pela república. O Estado só chegara tão longe para trazer a injustiça e a morte. Essa não era a república reclamada pelo autor. Euclides não mascarou a realidade porque não pregou uma falsa igualdade social entre as “raças”, o que seria feito por outros. Como identidade nacional, podemos tirar a frase “A nação brasileira é o resultado de uma angústia racial”, e ele, Euclides da Cunha, é o primeiro que se propõe a fazer um estudo a fundo desses cruzamentos todos que nos formam.

Fonte: Wikipédia / Colaboração: Profª Regina Amélio (Ceunsp-Salto-SP)

Um comentário:

  1. Boa resenha essa de Os Sertoões. É isso mesmo. Iniciamos a aventura literária com o pé atrás com Euclides; terminamos a leitura apaixonadas por sua capacidade de interpretação da realidade, por sua capacidade de mostrar-se como homem de seu tempo e, mais adiante, assumir seus enganos...

    Regina

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